TAVEIRO
As tradições e os costumes de cada região constituem um suporte identificador da mesma que deve ser, por isso, preservado e divulgado. Dos hábitos antigos, caracterizadores deste povo beirão, o destaque recai sobre as Romarias e as Escamisadas, nas eiras, durante as quais os jovens esperavam a melhor altura para iniciarem o namorico.

A festa das Maias era também um costume bastante apreciado pelos rapazes que, na madrugada de 30 de Abril para primeiro de Maio, enfeitavam as portas das casas onde viviam as raparigas de quem gostavam e com quem gostariam de namorar.

Durante a Quaresma, a Serradela da Velha construída um entretenimento jocoso em época de grande reflexão espiritual, nem sempre aceite pelas velhas visadas.

Danças e Cantares: Fazem parte da memória dos mais velhos, os serões bem passados com modas de roda, nomeadamente o vira de quatro batido que se dançava no terreiro.

Trajes Característicos: De acordo com documentos antigos, recuperaram-se os trajes de Noivos, de Lavradores Ricos, de Ver a Deus, de Domingueiro, de Senhora (finais do século XIX), de Romeiros, de Domingueiro Bairranho, de Mulher do Arroz Doce e de Trabalho (Cefeira, Mondadeira, cavador, Mulher da Merenda, Lavadeira, vendedeira do Mercado, Aguadeira, Leiteira, Cesteiro e Barqueiro).

Jogos e Brinquedos Tradicionais: Outrora, eram muitos e variados os jogos que animavam a infância de quem é hoje avô ou pai. Eram poucos os recursos financeiros de então, pelo que bastava um grupo de jovens, alguns materiais de reserva e muita imaginação.

Desse universo lúdico, recuperaram-se os jogos da malha, do pau e da cantarinha.

AMEAL
Jogos e brinquedos tradicionais
De acordo com as memórias dos antigos, recuperou-se o jogo da malha.

No Ameal quando há casamentos ainda há tradição de oferecer arroz-doce a toda a aldeia. Para os convidados é uma travessa e um pão grande e para os não convidados um prato e um pão pequeno. Assim todos dão prenda aos noivos.

Tem sido uma aposta desta Freguesia a recuperação e manutenção de tradições locais, como os “Cânticos das Almas e Martírios”, o “Serramento da Velha”

ARZILA
Tradição do Entrudo – Azurrar
Antes do Entrudo era costume azurrar. Esta prática era levada a cabo por dois homens que, colocando-se em pontos altos da Freguesia e munidos de funis ou grandes cabaças, punham a descoberto actos da vida privada de outras pessoas, que estas preferiam manter segredo.

A maior ou menor satirização dos factos, dependia da capacidade individual dos dois autores do azurrar, que remalavam com grandes gargalhadas.

QUARESMA
Serramento da Velha
A Quaresma em Arzila era observada, com várias práticas de religiosidade popular muito respeitadas pela população, só quebrada pela serração, serrar ou serramento da velha, que era um brincadeira feita por rapazes, que tinham lugar na quarta-feira do meio da Quaresma, sendo uma espécie de trégua no rigor daquela tempo litúrgico.

Previamente, arranjavam chocalhos ou campainhas do gado bovino, ovino ou caprino, um serrote e um bocado de madeira, latão ou cortiça. Esta brincadeira começava no adro da igreja, onde havia ajuntamento dos rapazes que participavam neste costume popular.

Percorrendo a aldeia, diziam a porta das velhas escolhidas.
“O minha avozinha a quem é que deixa os motes de Cima?”
Se a velha não respondia, eles diziam:
“Olha a nossa avozinha já morreu, não responde!”
Tocavam os chocalhos e num grande alarido, faziam que choravam, dizendo um deles:
“Serra-lhe uma perninha!”
E o serrote fazia-se ouvir nos característicos som de corte, sobre a cortiça ou a madeira.
“Toquem os mais finos!”
E os rapazes que empunham as campainhas de sons mais agudos não se faziam rogados, tocando-as fortemente.
“Toquem agora os mais grossos!”
Era a vez de os chocalhos fazerem-se ouvir.
Mas, se a velha respondesse, podiam ou não ser bem aceites e em vez de levarem com uma “penicada”, podiam até beber uma pinga de jeropiga.
Mas as perguntas podiam tomar outra forma, como por exemplo.
“Ó minha avozinha o que deixa ao neto mais velho?”
Ao que ela respondia.
“Olha, e esse deixou-lhe os montes da Choupana!”
Esta resposta era uma referencia a utilização da choupana da palha como casa de banho, que no passado não existiam nas habitações da aldeia.
Por vezes, eram corridos com uma “penicada”, antecipadamente guardada para esse dia pelas valhas que não gostava muito desse brincadeiras, logo, as mais provocadas pela rapaziada.
E assim percorriam a aldeia, quebrando desta forma o rigor que a Quaresma impunha.

Amentar das Almas
Com origem perdida nos tempos, o “Amentar das Almas”, era uma expressão da religiosidade popular, presente em praticamente todo o país. Variando de região, quer na musicalidade, quer por quem a levava a efeito, tem, no entanto, um objectivo comum reflectir sobre a morte e pedir pelos fiéis defuntos.

Se nalguna locais era cantado só por mulheres, como por exemplo em algumas terras da Beira Baixa, noutras era a mistura das vozes dos homens e mulheres que se exprimiam cantado. Em Arzila, tal tarefa cabia unicamente aos homens que se juntavam para efeito.

Durante toda a Quaresma, um grupo de homens tornava a seu cargo o “Amentar das Almas”. Feita já a altas horas da noite, quando praticamente toda a aldeia se encontrava recolhida, a dolência musical do canto feito por vozes enrouquecidas pela dureza do trabalho, associado ao carácter da letra, transformavam aquele acto em momentos de profunda reflexão.

Os únicos dias da Quaresma em que não se “Amentavam as Almas”, era na quinta a sexta-feira santas, dedicadas ao “Cantar dos Martírios”, outro expressão de religiosidade popular. Os locais onde se “Amentavam as Almas” estavam determinados e começavam sempre pela porta da Igreja, a que se seguiam os locais onde havia “Alminhas”, entoando versos, como os exemplos que se seguem.

Bendito e louvado o Santíssimo Sacramento
Do altar da puríssima Conceição; Virgem Maria Nossa Senhora
Concebida em graça sem mácula do pecado original
Desde o primeiro instante sem ser. Amém,
Seja p’lo divino amor de Deus. Padre Nosso.

(tocam a campainha 3 vezes e reza-se o Pai Nosso)

Cantar os Martírios
Dois grupos de homens, na quinta e sexta-feira santas, percorrem vários pontos da Freguesia (onde existem, ou existiam “Alminhas”) e alternadamente cantam quadras que descrevem o sofrimento e morte de Cristo. A origem da musica e letra perde-se nos tempos. Nas soleiras das portas, a população escuta em silêncio.

Bendito e louvado seja
A paixão do redentor
Que pr’a nos livrar das culpas
Morreu em nosso favor
Suportou grandes tormentos
Duros martírios ba cruz
Morreu para nos salvar
Bendito Deus
Quanto por nós ascendeste
Ó bom Jesus Salvador
Quem há que possa entender Tantos excessos de amor.

Pascoa
No Sábado de Aleluia era tradição queimar o Judas, que consistia na construção de um boneco em palha, no qual se introduziam algumas bombas de foguetes. Deitava-se fogo ao boneco com a assistência da população que vibrava, pois quando atingia a zona em que se encontravam as bombas, o Judas rebentava com um enorme estoiro.

No dia da Páscoa, a saída do Senhor a rua era feita pelo Padre com a Cruz, acompanhado pelo toque da campainha que fazia anunciar a visita. Constituía uma festa de convívio comunitário dada a grande participação popular nas visitas de casa em casa a amigos e familiares.

Malas
Era costume, na noite de 30 de Abril para 1 de Maio, os rapazes enfeitarem as portas da rapariga de quem gostavam com ramadas de freixo e com flores silvestres postas na soleira da porta, a que por vezes acrescia a colocação de uma caixinha feita em madeira, com maior ou menor valor artístico, e que era recheada com bolachas e amêndoas.

Dia da Bela Cruz
Na noite de 2 para 3 de Maio, eram colocadas nas sementeiras cruzes feitas em cana, decoradas com flores silvestres, com o objectivo de invocar uma boa colheita.

DANÇA E CANTARES:
Integrando a denominada Região do Baixo Mondego, naturalmente que as danças são típicas modas de roda de terreiro, com realce para Josézio foi a Serra, A brincar c’o meu pião e dobadoira entre outras.

Mas também um conjunto de danças como os Viras os Verdes Gaios e outras, comum a muitas regiões etnográficas do país, de que é se realça o saloio, também designado por moda de quatro, que é um Fandango, sendo um elemento importante para o estudo da difusão deste tipo de danças de origem luso-galáica.

As influencias de outras regiões são notórias nalgumas danças, como é o caso da Pavão ó Real Pavão, de influencia da Beira Alta, mas também e sobretudo da Estremadura, com o aparecimento em Arzila do Bailarico e do outras modas como a moda do chegadinho.

TRAJES CARACTERÍSTICOS:
Em finais do século XIX e princípios do século XX, a forma de trajar, embora simples era condizente com a função.

No trabalho, eram usadas roupas simples, de tons escuros, para proteger o corpo; nas festas e romarias, bem como aos domingos, usavam-se roupas mais cuidadas e de cores mais garridas, em actos de cerimónia, como o casamento, o traje feminino consistia em casaquinha e saia de tecido de lã asseado de cor preta, completamentado com o lenço de seda branca sobre a cabeça e, como adorno, o indispensável cordão de ouro, quantas vezes a única peça do dote da noiva. Até finais do século XIX, fazia parte também deste traje, o uso de uma capoteira em lã, debruada a veludo, podendo ter maior e menor ornamentação, em missangas ou vidrilhos. Esta peça desapareceu no virar do século XIX para XX. No homem, também a cor preta, sendo o fato composto por casaca ou casaco curto de lã, sobre colete da mesma cor que, parcialmente cobria a camisa branca em linho; as calças complementavam o conjunto, a que um chapéu de aba larga dava o toque cerimonioso. Nos pés, usavam botas de elástico, pretas, feitas pelo sapateiro da terra.
Usavam-se para confecção das diversas peças do traje, tecido de lã, como o burel, ou surrobeco ou a beata, ou então as chitas, a castorina, os cotinis e os riscados, a que se juntavam os linhos de produção familiar.
Para as peças mais ricas, usadas sobretudo pelas pessoas de mais posses, podia-se recorrer ao armur e a outra lãs mais caras.

As matérias-primas ao dispor, como o junco, eram usadas para a manufactura de palhoças, uma espécie de capa, que servia de protecção pra o frio e para a chuva.
Os pés, quase sempre tamancos, mais só ocasionalmente tomavam contacto com botas.
Na cabeça da mulher, o lenço era peça obrigatória e também, consoante a ocasião, poderia ser usado o lenço de lã bordado a retrós, o cachené em lã ou lenço de seda.
Também o chapéu de feltro preto adornou a cabeça das mulheres de Arzila. Alguns modelos foram usados variando quer a copa quer as dimensões da aba, conforme a situação fosse de festa ou de trabalho.
O xaile era peça de adorno ou agasalho, quantas vezes obtida com as dificuldades próprias dos magros rendimentos.

JOGOS E BRINQUEDOS TRADICIONAIS:
Como forma de ocupação dos tempos livres, dedicavam-se á pratica de jogos tradicionais, quer um terreiros , que nos campos, enquanto apascentavam o gado.

Os jogos mais comumente praticados eram o talo, o belho, o nicho ou porca, o frade ou ramalho, a marca ao pau ou a bogalhinha.

O pião era o brinquedo preferido da rapaziada. Outros jogos estavam associados a Festa da Cavalhada, como a cântara ou subida ao pau ensebado.

A lenda do lobisomem
Dizem que em Arzila havia um homem que se levantava todas as noites á meia-noite e ia-se deitar na manjedoura de um burro.
Um dia a mulher viu-o sair com um cobertor á cabeça e a ir para o curral do burro.
Um dia ele disse-lhe que era lobisomem.
Ela perguntou – lhe se ele se podia curar e ele disse que sim.
– Amanhã quando for meia noite levanta – se, vai para a varanda e espeta-me com um ferro.
No outro dia á meia noite ela foi para a varanda. Ele passou e ela espetou-lhe o ferro.

Lenda da Mata da Vieira
Um homem foi a Mata da Vieira pescar enguias e ouviu um barulho que vinha por entre as árvores.
Foi ver o que era. Andou, andou até que viu que eram bruxas a catar.
E meteu-se no meio delas e começou cantar :
– Segundá, Terçá, Quartá, Quintá, Sextá, Sabadá .
E o chefe delas disse:
– Que havemos de fazer a este homem que tão bem nos ajudou?
– Tiramos – lhe a borrega das costas .
O homem fui contente para casa e o irmão perguntou-lhe:
– Ó irmão que te aconteceu?
– Foi as bruxas .
O irmão foi para lá e ouviu o mesmo barulho . Foi para lá e meteu-se no meio delas a cantar:
– Segundá, Terçá, Quartá, Quintá, Sextá, Sabadá, Domingá.
E o chefe disse :
– Que havemos de fazer a este homem que tão mal nos ajudou?
– Pomos-lhe a outra borrega nas costas. E o homem foi para casa com duas borregas nas costas.

Lenda dos Mouros
Diz -se em Arzila que as pessoas que andavam no campo viam os mouros a secar o ouro no sítio onde agora é a linha do comboio.
As pessoas viam tudo a brilhar e iam a correr quando lá chegaram não estava lá nada.